Os amantes submarinos - Mendes e Trentini

Os amantes submarinos

(Murilo Mendes)


Esta noite eu te encontro nas solidões de coral
Onde a força da vida nos trouxe pela mão.
No cume dos redondos lustres em concha
Uma dançarina se desfolha.
Os sonhos da tua infância
Desenrolam-se da boca das sereias.
A grande borboleta verde do fundo do mar
Que só nasce de mil em mil anos
Adeja em torno a ti para te servir,
Apresentando-te o espelho em que a água se mira,
E os finos peixes amarelos e azuis
Circulando nos teus cabelos
Trazem pronto o líquido para adormecer o escafandrista.
Mergulhamos sem pavor
Nestas fundas regiões onde dorme o veleiro,
À espera que o irreal não se levante em aurora
Sobre nossos corpos que retornam à água do paraíso.

***

(Luísa Trentini)

Esta noite eu te encontro no frio dos corais,
Onde as curvas de água são tuas mãos.
Amar no mar! Amar nas galeras antigas!
Abraçar-te em teu entorno, abraçar
Por todos os lados, em fendas macias! Desaguar!
Sorver teu corpo de paraíso,
Ser sorvida! Em goles enluarados...
Mergulhemos sem pavor. Sem limites.
Sejamos beijos, carícias líquidas,
Cachos azuis de espuma em peles que se mesclam,
Verdes, douradas, amantes.
Amar sem formas nem dor: incontinentes.


Entreguemos nossos corpos

À beleza dispersa e eterna do mundo:
Esta noite te encontro lá.